29/01/2007

NÃO ESQUECER

22.
Ao fim de tanto tempo, o que ainda impressiona neste debate sobre o aborto é a quantidade de argumentos que se esgrimem e a falta de clareza da discussão.
E, no entanto, o que está em causa é bastante simples. E o que não está, também.
Não está em discussão a prisão de mulheres que abortaram, porque não há, nem houve mães presas.
Não está em discussão acabar com o aborto clandestino, porque onde se liberalizou o aborto, continuou a haver quem aborte clandestinamente.
Não está em discussão o aborto em caso de violação da mãe, de malformação do feto ou de perigo para a vida da mãe. Tudo isso já foi discutido e a Lei já aceita essas excepções que a maioria das pessoas diz compreender. [Desde 1984]
Sobra uma única coisa que está de facto em discussão: às dez semanas há ou não uma Vida? Há. É um facto, não é uma opinião.
Há uma Vida com dez semanas – que faz caretas, tem dentes de leite, impressões digitais e um coração a bater - a que só falta nascer e crescer.
A pergunta que agora se faz é escolher se a deixamos nascer, ou se deixamos que a Lei diga que pode ser abortada, se a mãe quiser. Seja por que razão for.
Ora, ou é uma vida ou não é. Se é – e é – só podemos defender que viva. Não é possível, nem lógico, nem “moderado” dizer que é mais ou menos uma vida, que a mulher é que sabe se é vida ou não ou que só é vida se eu acreditar que sim. As coisas não são assim, às vezes as coisas são irremediavelmente mais simples.
Eu sei que há uma vida antes das dez semanas. Há quem não saiba, há quem desconfie e há quem tenha as suas dúvidas. Mas não há quem negue. Ora, na dúvida, só existem dois caminhos: não fazer nada ou tentar descobrir.
Para tentar defender com lógica e razoabilidade o sim é preciso dizer que isso de ser uma Vida não interessa, que não é isso que interessa. Está mais alguma coisa em discussão? Não.
I AN