41. O português e o dinamarquês
(...) ao passar pelo Campo Pequeno na companhia de um dinamarquês, caí na esparrela de comentar que era ali onde se realizavam as corridas de toiros. O escandinavo, com indignação mal-disfarçada, segurou-me pelo braço e lançou-se a toda uma exposição moralista e condenatória das monstruosidades com os animais.
(...) O point era que a essência do “espectáculo” consistia mesmo em maltratar o bicho, física e psicologicamente – e tudo sem perguntar ao toiro se ele estaria de acordo com a brincadeira. “O animal – disse-me – merece o mesmo respeito reservado às pessoas”.
Resolvi inquirir o tão civilizado colega sobre a sua posição acerca do aborto. Sem pestanejar declarou-se completamente favorável. Perguntei-lhe se estava ciente de que o aborto implicava um requinte de crueldade física bastante mais elevado do que uma corrida de toiros, e exercida, para mais, sobre um pequenino e indefeso ser.
Perguntei se, além de maltrato físico, o aborto não seria também maltrato psicológico. Perguntei se o feto não mereceria o mesmo respeito reservado às pessoas, aquele que ele gostaria de ver estendido aos animais. E perguntei também se achava bem o feto não ser consultado sobre o maltrato que iria receber...
As respostas? 1) o feto não é uma pessoa; 2) abortar é um direito da mulher... não me pude conter: Mas então, se o feto não é uma pessoa, o que é? Um animal? Bem, se for um animal – segundo o próprio colega – merece todo o respeito reservado à pessoa, logo não deve sofrer maltratos, menos ainda literalmente despedaçado vivo.
Resposta do interlocutor de mentalidade muito avançada: Não, o feto não é nem uma pessoa nem um animal. O feto é um orgão como outro qualquer – uma vesícula, um rim, um fígado. Portanto, pode ser extraído de acordo com a vontade do “dono”.
Ora – digo eu – se o feto é um orgão como outro qualquer, como é que ele é constituído à nossa imagem e semelhança, possui um coração que começa a bater aos 20 dias de concepção, um cérebro cuja actividade eléctrica pode ser sentida aos 40 dias, sente dor às 14 semanas e pode sobreviver fora do útero a partir da 21ª semana?
Como é que um belo dia ele “salta” para fora da barriga da progenitora ao gritos? Se neste momento é considerado “pessoa”, por que o não era alguns segundos antes?
Aí o rapaz começou a confundir-se: Bom, não há certeza, não se sabe bem quando passa a ser uma pessoa... Ah! – lá vou eu de novo – Então na dúvida, optamos por ceifar uma “possibilidade” de pessoa? Por que não o contrário, e conceder-lhe o famigerado “benefício da dúvida”?
(...)
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